Altamente recomendado.
Ler a dNews não é obrigatório, mas é altamente recomendado para quem quer se tornar mais esperto.
📕 a dermatologia atual
Na prática a teoria é outra?
COSMIATRIA
A gente já compreendeu as bases moleculares das terapias antienvelhecimento a partir de 27 estudos in vitro e modelos animais aqui nessa simpática newsletter.
Mas, sempre é bom questionar: será que os bons resultados encontrados nos estudos se traduzem na prática clínica?
Curiosamente, a maior parte dessas inovações vem de pesquisadores coreanos, adicionando um charme de dorama à nossa jornada rs. Pega a pipoca!
Da bancada do laboratório para a prática clínica: explorando descobertas de 7 estudos clínicos e o impacto no tratamento do envelhecimento da pele.
Rejuvenescimento Dérmico com USC-CM tópico (meio derivado de células-tronco do cordão umbilical): um estudo coreano demonstrou que o uso tópico de um creme com 10% de meio derivado de células-tronco do cordão umbilical (USC-CM) por quatro semanas resultou em aumento de 2,46% na densidade dérmica e redução de rugas ao redor dos olhos. A análise utilizou tecnologias como PRIMOS® premium, Spectrophotometer® CM-2500d para rugas e pigmentação, e Dermascan® C para avaliar a densidade dérmica através de ultrasonografia.
Melhora da Textura da Pele com EPC-CM (meio derivado de células epidérmicas progenitoras): outro estudo coreano avaliou os benefícios de uma formulação tópica 5% de EPC-CM na textura da pele com rugas leves a moderadas. Após 4 semanas de aplicação, observou-se melhora significativa na textura da pele e na redução da profundidade das rugas. Métricas foram feitas com ANTERA 3D®, escala de rugas periorbitais e avaliação global do médico foram utilizadas.
Recuperação pós-Laser com soro de células-tronco do cordão umbilical: um estudo avaliou a eficácia de um creme contendo meio derivado de células de sangue do cordão umbilical em pacientes submetidos a tratamento com laser CO2 fracionado ablativo. Resultados indicaram cicatrização mais rápida das feridas e redução do eritema pós-tratamento. O estudo utilizou fotografias digitais, parâmetros biofísicos e escores globais de melhoria da textura da pele.
Evidências de rejuvenescimento cutâneo com terapias sem células: uma revisão sistemática analisou quatro ensaios clínicos realizados de 2014 a 2020, que exploraram a combinação de microagulhamento ou terapia a laser com terapias tópicas sem células, evidenciando melhorias em rugas, pigmentação e aparência dos poros. As terapias incluíram o uso de célula-tronco mesenquimal (MSC) e célula precursora endotelial (EPC). Apesar da moderada heterogeneidade entre os estudos, todos apontaram para a eficácia do tratamento, embora a intensidade dos efeitos tenha variado.
Brilho e Rejuvenescimento da Pele associando microagulhamento e hUC-MSCs-CM (meio derivado de células-tronco mesenquimais vindas de cordão umbilical humano): avaliou o uso do microagulhamento roller de 0,5 mm para aplicação transepidérmica de hUC-MSCs-CM ou salina, visando ao rejuvenescimento da pele. Os participantes receberam cinco sessões com intervalos de duas semanas. A segurança e eficácia foram avaliadas por meio de medidas como hidratação, perda de água transepidérmica, elasticidade, índices de melanina e eritema pelo Cutometer®, além de análises de fotos do rosto (manchas, rugas, poros) pelo VISIA® e questionários de autoavaliação dos pacientes. Os resultados indicaram melhorias significativas no brilho, textura da pele e satisfação dos pacientes.
Comparação de Métodos de Entrega com ADSC-CM (meio derivado de células tronco de adipócitos) l Microagulhamento vs Tratamento a Laser Fracionado: estudo comparativo que analisou a eficácia do microagulhamento com Dermapen® e do laser CO2 fracionado na entrega de ADSC-CM. Ambas as técnicas demonstraram ser efetivas na melhoria das rugas e no rejuvenescimento da pele, embora a preferência da maioria dos pacientes tenha sido o laser fracionado. O estudo realizou duas sessões com intervalo de quatro semanas. Os resultados foram avaliados por dermatoscopia, utilizando a escala de envelhecimento DPAS modificada e o sistema Janus III medindo aspectos como poros, pigmentação, manchas, umidade, elasticidade, rugas, sebo e porfirina.
Eficácia da combinação Exossomos e Microagulhamento: outro estudo investigou o impacto do microagulhamento em combinação com exossomos derivados de células-tronco de adipócitos (ADSC-Exo) no rejuvenescimento facial. Os resultados indicaram melhorias notáveis em aspectos como rugas, elasticidade, hidratação e pigmentação da pele. Além disso, análises histológicas confirmaram o aumento de colágeno e fibras elásticas. Foram utilizadas diversas métricas, como a Escala Global de Melhoria Estética (GAIS), PRIMOS Premium para rugas superficiais, Cutometer MPA 580 para elasticidade, Corneometer CM 825 para hidratação e Mark-Vu para o índice de melanina. Foi o único que fez avaliações histopatológicas, utilizando biópsias de pele (punch de 2 mm) em quatro participantes.
Os estudos foram pequenos, com 22 até 133 pacientes (esse na revisão sistemática) com idades entre 18 e 60 anos. A conclusão é essa: precisamos estudar mais!
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No pain no gain: os riscos dos anabolizantes e a pele
COMPORTAMENTO
Natty ou fake natty? Um estudo recente lança luz sobre uma questão preocupante: as manifestações cutâneas decorrentes do uso indevido de esteroides anabolizantes androgênicos (EAA).
Estima-se que entre 1 a 3% das populações dos EUA e da Europa façam uso dessas substâncias, que imitam a testosterona, buscando benefícios como o aumento da massa muscular. No entanto, ficar “bombado” tem um preço: efeitos colaterais somáticos como ginecomastia, infertilidade e, crucialmente, acne.
O estudo aprofundou-se nas complicações dermatológicas associadas ao uso dos esteroides anabolizantes androgênicos, utilizando dados dos registros dinamarqueses e focando em usuários masculinos identificados através de um programa nacional antidoping nas academias entre 2006-2018.
Casa usuário foi pareado com 10 controles. O estudo, com um ano de seguimento, incluiu 1.189 pessoas que faziam uso de esteroides e 11.800 controles. A idade média era de 27 anos.
Os achados:
23% dos usuários de EAA precisaram de medicamentos dermatológicos contra 14% dos controles. Isso significa que, entre as pessoas que usam EAA, quase 1 em cada 4 precisou de algum tratamento para a pele. Enquanto isso, no grupo de pessoas que não usam EAA, esse número foi menor, cerca de 1 em cada 7.
E foi relevante? Bem, a gente te conta com números: RR (Risco Relativo) 1,6, IC 95%: 1,43-1,79, p<0,0001 (vai na fé rs).
RR 1,6: o risco de precisar de medicamentos dermatológicos é 1,6 vezes maior para usuários de EAA em comparação com não usuários. Ou seja, os usuários de EAA têm 60% mais chances de enfrentar problemas de pele que requerem medicação.
IC 95% 1,43-1,79. O "Intervalo de Confiança" significa que estamos 95% confiantes de que o verdadeiro risco relativo está entre 1,43 e 1,79. Quanto mais estreito esse intervalo, mais precisas são nossas estimativas.
p<0,0001: o "valor p" nos diz se o resultado é estatisticamente significativo e a diferença observada não aconteceu por acaso. É muito provável que seja um efeito real do uso de EAA.
Além disso, os usuários de EAA mostraram maior incidência de problemas de pele diagnosticadas em hospitais, especialmente infecções, com uma taxa de risco ajustada três vezes maior que a dos não usuários.
Comparado aos controles, essas pessoas tiveram mais acne e infecções de pele. As prescrições para eczema e psoríase foram iguais nos 2 grupos. O aumento de acne está em acordo com a literatura e o aumento de infecções da pele pode ser pelas injeções.
Os achados reforçam a compreensão dos riscos associados ao uso indevido de anabolizantes, especialmente no que diz respeito à pele e destaca os riscos de transmissão de doenças infecciosas através de injeções de esteroides.
Então já temos nosso veredito: menos anabolizantes e mais ciência!
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Sobre erros e acertos no tratamento da escabiose
TERAPÊUTICA
Não que a gente esteja procurando um sarna para se coçar rs, mas fomos atrás dessa história.
Em uma recente pesquisa publicada por uma revista inglesa, a crescente falha nos tratamentos contra escabiose foi alvo de discussão - e isso despertou particular interesse na nossa turma aqui do Brasil.
Imagina se a permetrina deixar de dar resultado?
A análise abrangente de 147 estudos revelou uma taxa de falha geral de cerca de 15%, com resultados semelhantes em crianças e adultos, podendo indicar que o ácaro não está mais tão susceptível!
Os tratamentos mais comuns identificados foram ivermectina (34,7% dos estudos) e permetrina (25,9%), seguidos por lindano, benzoato de benzila e terapias combinadas (5,4%). Instruções adicionais, como tratamento de contatos e controle ambiental, foram dadas em 59,2% dos estudos.
A maioria dos estudos relatou sucesso (84,4%) e 15,7% falência (reinfestação, retratamento, recorrência da escabiose, persistência de prurido ou ácaro resistente). Na grande maioria das vezes (82,3%) o desfecho era verificado pelo exame físico, seguido de exame microscópico (35,4%), história do paciente (18,4%) e dermatoscopia (8,2%).
As menores taxas de falha no tratamento foram encontradas com ivermectina (especialmente duas doses) e permetrina (em uma aplicação ou duas):
Permetrina: falha em 10.8% das vezes
Permetrina (duas doses): falhou 7.3% dos casos
Permetrina (uma dose): 8,5% de falha
Ivermectina oral (qualquer dose): falhou 11.8% das vezes
Ivermectina oral em duas doses: 7.1% de falha
Ivermectina Oral uma dose: 15,2% de falha
Ivermectina Tópica: falha em 9.3%
A eficácia do tratamento para a escabiose variou dependendo da região (menor na Europa), do método diagnóstico (métodos objetivos tiveram maior falha) e da implementação de medidas para garantir o uso correto do medicamento e prevenir reinfestação.
Houve aumento na falha do tratamento ao longo dos anos (taxas recentes de 17,4% de falha contra 12,8% antes de 2011). Sabe aquela frase: “não sei como foi, só sei que foi assim”? Pois é, eles não conseguiram desvendar os fatores, pois tinham somente 3 estudos com análises multivariadas e nenhum avaliou resistência ao tratamento.
O risco de bias foi moderado (51,7%) a alto (31,3%) e os problemas dos estudos foram não serem randomizados, representativos de uma população ou país e terem tempo de follow-up inadequado.
Apesar disso, uma coisa sabemos, segue a duplinha para escabiose: ivermectina oral duas doses e permetrina tópica.