Apareceu.
Quando certas realezas vão aparecer não sabemos, mas a nossa newslleter favorita acabou de fazer a sua aparição semanal.
📕 a dermatologia atual
Novidades no tratamento tópico de psoríase e dermatite atópica
TERAPÊUTICA
Novo tratamento na dermatologia? Vem conferir.
Um estudo foi feito para saber se um novo inibidor da fosfodiesterase 4 (conhecido ainda pela simpática sigla PF-07038124), é eficaz e seguro se usado para tratar dermatite atópica (DA) e psoríase em placas. A medicação é um derivado do oxaborole, parente do crisabolore já presente no mercado norte-americano.
Como foi feito? Foi um estudo fase 2a, randomizado, duplo cego e multicêntrico. Participaram pacientes com idade entre 18 a 70 anos, com doenças leve a moderadas - dermatite atópica com BSA<20% ou psoríase em placa com BSA<15%. Os pacientes foram randomizados para receber o PF-07038124 0,01% pomada ou veículo por 6 semanas.
Foram 104 pacientes, sendo 52,9% mulheres e 83,7% brancos. Desses, 70 tinham DA e 34 tinham psoríase em placa. Na semana 6, os participantes do grupo do PF-07038124 tiveram EASI e PASI significativamente melhores que os grupos controles. Os eventos adversos foram comparáveis e nenhum foi no local de aplicação do medicamento. A conclusão foi de que o medicamento é eficaz (comparado ao placebo) e seguro para DA e psoríase em placas.
É mais do mesmo?
Os estudos anteriores com o crisaborole na DA e roflumilaste na psoríase (ambos inibidores da PDE4) também mostraram eficácia (então aqui temos uma confirmação de achados prévios), mas às custas de eventos adversos locais (queimação e dor).
Aí está a graça do estudo: com um design diferente, testou grupos de doenças em paralelo, sem reações no local de aplicação do remédio ou eventos adversos sistêmicos (não houve absorção sistêmica na dosagem sérica do medicamento).
O estudo teve suas limitações: grupos de pacientes pequenos e tempo de seguimento curto, mas é um medicamento promissor e aguardamos pelos estudos maiores.
🕗 Tá com tempo? A gente quer explicar mais uma coisinha rs. Na DA a resposta imune predominante é a Th2 (envolve citocinas IL-4 e IL-13) e na psoríase em placas Th1 e Th17 (TNF-α, IL17, L23). Ou seja, temos aqui vias diferentes de resposta imune e a questão que fica é: como um mesmo remédio pode tratar ambas?
A fosfodiesterase é uma enzima (e não um receptor) que fica dentro das células e degrada o AMP-c, um 2º mensageiro de muitas vias metabólicas intracelulares, que regula também muitas citocinas. Tem 11 subtipos, mas a gente tá focado no subtipo 4 (PDE4), expressa nos queratinócitos e células imunológicas (células T, monócitos, macrófagos, neutrófilos, células dendríticas, eosinófilos). Os inibidores da PDE4 aumentam o AMP cíclico intracelular e no final reduzem as citocinas proinflamatórias de ambas as vias.
#nahoradeprescrever: o crisaborole 2% pomada (Eucrisia®) foi aprovado pelo FDA em 2016 para DA a partir de 3 meses de idade (preço de $778.00 na Amazon Pharmacy com 60 gramas). O creme ZORYVE ™ (roflumilaste) 0,3% foi aprovado pelo FDA em 2022 para o tratamento da psoríase em placas, incluindo áreas intertriginosas, em pacientes com 12 anos de idade ($875.00 embalagem com 60 gramas na Amazon Pharmacy).
🇧🇷 No Brasil, não temos nenhum dos dois disponíveis para a compra.
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Terapias regenerativas e o carrinho de compras
COSMIATRIA
Nos dois últimos episódios na nossa dFlix semanal conversamos sobre “terapias regenerativas” e conferimos as evidências das bancadas dos laboratórios aos trials clínicos.
🛒 Mas na vida real, onde compra para usar? rs. Vamos dar uma espiada no que já está rolando no Japão, país de origem desse artigo.
Terapias baseadas em células:
TEMCELL® (células-tronco mesenquimais da medula óssea) para doença do enxerto versus hospedeiro. Aprovado no Japão em 2015.
Epicel® (cultivo de queratinócitos do próprio paciente) para queimaduras extensas. Confira abaixo:
Apligraf® (fibroblastos e queratinócitos de prepúcio neonatal cultivados em matriz de colágeno bovino, formando derme e epiderme), substituto de pele alogênico (células doadas).
LAVIV® (fibroblasto autólogo, próprio paciente, de biópsia da pele retro-auricular) para ruga nasolabial e cicatrizes de acne, aprovado pelo FDA em 2011 após dois estudos de Fase III, com 421 pacientes.
JACE® (células derivadas da epiderme do próprio paciente) aprovado no Japão para queimadura (2007), nevo melanocítico congênito gigante (2016) e epidermólise bolhosa (2018) e ACE02® (cultivo de epiderme com melanócitos do próprio paciente) para vitiligo, aprovado em março de 2023.
PRP (centrifugação do sangue do próprio paciente para concentrar as plaquetas) para o tratamento de condições dermatológicas relacionadas ao envelhecimento da pele. Existem vários kits e formas de extração no mercado.
E as terapias sem células? O uso de vesículas e exossomos derivados de MSCs, ainda está em estudo e precisamos ir com cautela. Contenha-se rs, não dá para comprar.
A produção é complexa e muitos dos produtos são caros, entre outros obstáculos.
🇯🇵 Se você resistiu até aqui, entenda o motivo dessa fofoca ter vindo da terra do sushi: o tamanho dos ensaios clínicos exigido pelas autoridades regulatórias japonesas não é tão grande quanto o necessário na Europa e nos Estados Unidos.
Isso ocorre porque as características especiais da medicina regenerativa são levadas em consideração ao determinar o número necessário de casos para os estudos. Lá, existe um sistema de aprovação acelerado em vigor desde 2014, permitindo a aprovação e comercialização condicional por tempo limitado se a segurança for confirmada e houver evidência presumível de eficácia. Sayōnara?
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Sobre indicações terapêuticas para LPP e AFF
TRICOLOGIA
Nem tão comuns como um eflúvio, mas potencialmente graves.
Aqui, nós vamos olhar para o tratamento da alopécia fibrosante frontal (AFF) e do líquen plano pilar (LPP), ambas alopécias linfocíticas cicatriciais que apresentam características em comum - mais que amigas, friends rs.
Tricoscopia: olho no eritema e descamação perifolicular, mas a ausência não significa remissão. Tem pacientes sem sinais e sintomas de inflamação que continuam a ter progressão da área de alopécia (céus!) sugerindo que a inflamação do istmo folicular pode não ser visível na superfície da pele (olha o Titanic afundando rs).
Prognóstico: fatores de pior evolução incluem envolvimento difuso frontotemporal, perda de cílios, de pelo corporal, ter pápulas faciais. Já padrões de bom prognóstico são o sinal da ‘‘pseudofranja’’, envolvimento leve das sobrancelhas, idade jovem de início da doença.
👇 Veja como direcionar o tratamento:
LPP: quase metade dos pacientes precisam de medicamentos de 3 classes diferentes.
Primeira linha: corticosteroides tópicos de alta potência e intralesionais (que podem ser associados). Triamcinolona acetonida 10 mg/mL com volume total de até 2 ml a cada 4 a 6 semanas (atenção para o risco de atrofia do couro cabeludo). Se não responder em 3 meses, “partiu outros tratamentos”.
Corticosteroides orais: se casos extensos e rápida progressão, a boa e velha prednisona 1 mg/kg/dia tem boa resposta, mas.. é comum a recorrência. Pode ainda funcionar como ponte para outros remédios imunossupressores.
Hidroxicloroquina (HQN): em casos extensos, com dose máxima diária de 5 mg/kg com efeitos após 2 a 3 semanas e pico em 6 meses. Existe um ensaio clínico randomizado avaliando o uso de HQN 400 mg diários versus metotrexato (MTX) 15 mg semanais por 6 meses em casos refratários de LPP. Houve melhora significativa nos 2º e 4º meses de HQN, mas o MTX foi mais eficaz no período total.
Imunomoduladores: ciclosporina 3 a 5 mg/kg/dia, micofenolato mofetil 500 mg duas vezes ao dia e MTX 15 mg/semana para doenças de difícil controle.
Outros: retinoides sistêmicos (resultados discretos e altas taxas de recidiva), inibidores de calcineurina tópicos (pouca resposta) e iJAK como tofacitinibe 5 mg, 2 a 3 x/dia (parece promissor, em um pequeno estudo foi usado como adjuvante ou monoterapia e 80% dos pacientes apresentaram melhora).
AFF:
Tratamento tópico: corticosteroides de alta potência, corticosteroides intralesionais e inibidores de calcineurina. Corticosteroides tópicos de alta potência e inibidores de calcineurina tópicos melhoraram os sintomas, mas pouco efeito no controle da progressão da doença. Existem críticas ao uso de corticosteroides tópicos, pelo risco de piora da atrofia e aumento das telangiectasias da pele.
Tratamentos sistêmicos: HQN 200 a 400 mg/dia, os efeitos anti-inflamatórios e imunomoduladores ajudam a controlar a progressão da doença, e retinoides (isotretinoína oral 20 mg/dia efeitos benéficos no tratamento de pápulas faciais e líquen plano pigmentoso).
💣 Bons resultados: inibidores da 5-alfa-redutase (finasterida 2,5 a 5 mg/dia e dutasterida 0,5 mg/dia) tem sido administrados mesmo em pacientes sem alopécia androgenética associado para AFF. Sim, você leu bem e tem aqui uma carta na manga! Lembre-se de evitar se mulher com histórico pessoal ou familiar de câncer de mama.
O tratamento com luz de LED reduz sintomas na AFF e LPP. Cirurgia de transplante capilar é um opção, mas deve-se considerar que estabilização clínica não implica remissão da doença, e a reativação pode levar à perda do enxerto. Em geral, a sobrevida média do enxerto em pacientes por 5 anos foi de 41%, e mesmo assim a taxa de satisfação dos pacientes foi de 82%.
Enquanto enfrentamos icebergs de desafios, lembramos que, no final, é o conhecimento que nos faz navegar pelos mares!