Esforço x resultado.
Alinhe as expectativas: nem todo esforço traz resultados. Mas lembre-se: todo resultado vem de um esforço.
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Sobrevida em 10 anos na terapia imunológica para melanoma
MELANOMA
Um antes e depois de respeito: antes de 2011, a sobrevida mediana para pacientes com melanoma avançado era inferior a 12 meses.
🎬 Corta para 2024, em que o tratamento combinado de nivolumabe e ipilimumabe elevou essa sobrevida para 71,9 meses (5 anos e 11 meses), mostrando o impacto transformador das terapias imunológicas modernas.
De quem estamos falando? Estamos falando dos inibidores de check-point, que agem no sistema imunológico, bloqueando proteínas que impedem o sistema imune de ‘‘atacar’’ o melanoma. São o anti-PDL1 (pembrolizumabe e nivolumabe) e anti-CTLA4 (ipilumabe).
No estudo CheckMate 067, um estudo randomizado, prospectivo e duplo-cego, que incluiu pacientes com melanoma avançado, irresecável, em estágio III ou IV, que nunca haviam recebido tratamento para a doença. Os participantes precisavam ter status de mutação BRAF conhecido e uma pontuação de 0 ou 1 na escala de performance ECOG (The Eastern Cooperative Oncology Group), o que indicava que estavam em boas condições para suportar o tratamento.
Como foi feito o tratamento? Foram divididos três grupos de tratamento.
Nivolumabe + Ipilimumabe (combinação): na fase inicial, os pacientes receberam nivolumabe (1 mg/kg) e ipilimumabe (3 mg/kg) a cada 3 semanas, por um total de 4 doses. Depois, seguiram com nivolumabe (3 mg/kg) a cada 2 semanas.
Nivolumabe (em monoterapia): receberam nivolumabe (3 mg/kg) a cada 2 semanas e um placebo no lugar do ipilimumabe.
Ipilimumabe (em monoterapia): receberam ipilimumabe (3 mg/kg) a cada 3 semanas (4 doses) e um placebo no lugar do nivolumabe.
Principais resultados: benefícios duradouros e controle da progressão
Sobrevida geral e específica do melanoma: a combinação de nivolumabe e ipilimumabe resultou em uma sobrevida geral mediana de 71,9 meses (quase 6 anos), em comparação com 36,9 meses para nivolumabe em sonoterapia e 19,9 meses com ipilimumabe em monoterapia. Para a sobrevida específica do melanoma, a combinação ultrapassou 120 meses (10 anos), enquanto nivolumabe isolado alcançou 49,4 meses e ipilimumabe 21,9 meses.
Taxas de sobrevida de longo prazo (10 anos): entre os pacientes sem progressão após 3 anos de tratamento, as taxas de sobrevida específica do melanoma em 10 anos foram altas, com 96% para a combinação, 97% para nivolumabe sozinho e 88% para ipilimumabe sozinho.
Primeira progressão e metástase cerebral: a progressão ocorreu mais frequentemente nos linfonodos (18% com a combinação, 25% com nivolumabe, e 35% com ipilimumabe). Progressões no sistema nervoso central foram raras, ocorrendo em 5% com a combinação, 6% com nivolumabe, e 9% com ipilimumabe.
Percentual de eventos adversos graves (Grau 3 ou 4): 59% dos pacientes no grupo nivolumabe + ipilimumabe, 23% no grupo nivolumabe isolado, e 28% no grupo ipilimumabe isolado. Sim, o grupo de combinação teve mais eventos adversos mas ainda assim a combinação proporcionou taxas de sobrevida significativas, mesmo entre aqueles que tiveram que interromper o tratamento mais cedo.
A gente está vendo um marco das terapias imunológicas e vivemos esperando por dias ainda melhores, no qual o melanoma avançado seja controlável e talvez até curável. #oremos
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Passo a passo do ácido hialurônico até a seringa (e o que vem por aí)
COSMIATRIA
Ácido hialurônico: um dos nossos maiores amigos quando o tema é beleza. Mas, você sabe realmente como é produzido uma das substâncias mais injetadas atualmente?
O ácido hialurônico (AH) é um ativo hidratante e mantém volume porque ele é capaz de reter água - cada 1 grama de AH se liga a 6 Kg de água. Além disso, ele facilita a proliferação e migração dos fibroblastos e neutraliza espécies reativas de O2 (evitando o envelhecimento precoce).
Até os 20 anos, a quantidade de AH permanece estável no nosso corpo. Mas isso muda.. e aos 55 anos, a quantidade de AH é a metade do que se tinha aos 35 anos. E ainda bem que temos a mágica das seringa com preenchedores a base de ácido hialurônico. Mas, como o produto das seringas são feitas?
Tudo começa com as bactérias que produzem o AH. #funfact: inicialmente, o AH injetável era produzido a partir de língua de boi, cartilagem ou crista de galo, mas para evitar reação alérgica e transmissão de doenças, atualmente o produto é feito a partir da fermentação de de uma cepa Streptococcus, especificamente Streptococcus zooepidemicus.
Pioneiro: o primeiro na fila dos preenchedores foi a linha Restylane (Galderma, Suíça), que introduziu a tecnologia NASHA (Non-Animal Stabilized Hyaluronic Acid), reforçando a origem.
Após produzido o AH, e agora? Se fosse injetado desse jeito o preenchimento não duraria quase nada. Para durar, o ácido hialurônico precisa passsar por um processo de estabilização chamado cross-linking ou “ligações cruzadas”, no qual as moléculas de AH são ligadas entre si, por um processo físico ou químico.
Veja a figura:
Os preenchedores bifáscos são que apresentam mais cross-linking físico e pouco químico (cerca de 1-3%) e tem textura granulada. Já os monofásicos tem mais cross-linking químico (o BDDE que é adicionado e faz essa ligação química entre as moléculas de AH) e ficam mais homogêneos. Após a “massa” ser feita, ela é esfriada para solidificar as novas ligações formadas e dividida em partículas menores.
Mas, nem tudo são flores na fermentação: as fontes microbianas podem introduzir impurezas, como endotoxinas e proteínas celulares, exigindo processos de purificação do preenchedor, uma verdadeira “diálise”. É aqui que a dermatologia toca a nefrologia rs..
O AH é dissolvido em solução de hidróxido de sódio (NaOH) e passa por etapas de purificação, como centrifugação, filtração, precipitação e adsorção, para obter o AH bruto. Esses processos geram diferentes níveis de pureza, sendo que os produtos menos puros podem ter fins cosméticos e parar nos nossos “creminhos” e os muito puros serão usados para fins médicos (como preenchedores injetáveis).
Após a “diálise”, essa a massa de gel precisa ser dividida em partículas menores.
Os preenchedores bifásicos, que são firmes e elásticos, são peneirados, ou seja, a massa de gel é passada por telas ou malhas de tamanhos específicos.
Os monofásicos são moídos em partículas pequenas e arredondadas, criando uma textura uniforme e suave.
Para facilitar a injeção, tanto os preenchimentos bifásicos quanto os monofásicos podem ser misturados com HA livre, em forma aquosa.
O gel é transferido para seringas, onde é armazenado e posteriormente embalado como produto final. Tá pensando que acabou? Após o gel de HA ser transferido para as seringas, os produtos finais passam por um processo esterilização em autoclave. Esterilizar o preenchimento já nas seringas preserva as propriedades desejadas do gel.
Agora sim! Tá pronto a receita da nossa seringa favorita!
Mas.. o que vem por aí na produção do ácido hialurônico?
Preenchimentos de AH Autoligantes (SC-HA): SC-HA é uma inovação que permite que o HA faça ligações cruzadas com o próprio AH corporal, eliminando a necessidade de agentes químicos como o BDDE, o que pode aumentar a biocompatibilidade e segurança.
Preenchimentos com Substâncias Bioativas: o futuro dos preenchedores pode envolver a adição de fatores de crescimento e peptídeos, que estimulam a regeneração e a saúde da pele a longo prazo, oferecendo não apenas melhora física imediata, mas também benefícios de rejuvenescimento.
Nanotecnologia: a nanotecnologia possibilita o controle preciso do tamanho das partículas, melhorando os resultados e permitindo a entrega de agentes terapêuticos para tratar condições como hiperpigmentação ou inflamação.
Preenchimentos Inteligentes: futuros "preenchimentos inteligentes" poderiam se adaptar às mudanças no ambiente do tecido, como responder ao movimento facial para manter a forma e eficácia do preenchimento.
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Anticorpo monoclonal no tratamento da dermatite atópica
DERMATITE ATÓPICA
Lemos por aqui no último mês um estudo fase 2 sobre um novo medicamento para dermatite atópica (DA): rademikibart ou CBP-201 (Connect Biopharma), um anticorpo monoclonal contra receptor de IL-4Rα que bloqueia a sinalização de duas citocinas chaves na DA, a IL-4 e IL-13.
O resultado? Melhoras no índice EASI, boa resposta do prurido pela Peak Pruritus Numerical Rating Scale, bem tolerado, poucas reações adversas e poucos abandonos devido a efeitos colaterais. Na prática, injeções dadas a cada 4 semanas fez nossos olhos brilharem!
Fogo de palha? A longo prazo dá resultado? Um estudo mais recente, feito na China, estendeu essa análise para 52 semanas, confirmando que a eficácia observada nas primeiras 16 semanas se manteve ao longo de um ano, especialmente com a dose de 300 mg administrada a cada 4 semanas. É um alívio saber que uma menor frequência de doses ainda pode manter uma resposta clínica robusta. Imagine os benefícios para a adesão do paciente!
Agora, a pergunta que fica: qual será o próximo passo para o rademikibart no mercado? Se aprovado (aguardamos os estudos de fase 3), o rademikibart será um forte concorrente entre os biológicos, com o potencial de ser um "best-in-class" para quem vive com dermatite atópica. Fique com os números do estudo, se paciência vos há. rs
Manutenção da resposta clínica:
Cerca de 90% dos pacientes que receberam a dose a cada quatro semanas (Q4W) mantiveram o IGA 0/1 e EASI-75 até a semana 52.
Entre os pacientes que atingiram o IGA 0/1 ou EASI-75 na semana 16, 76%-87% mantiveram o IGA 0/1, e 92% mantiveram o EASI-75 até a semana 52 com ambas as dosagens (Q2W e Q4W).
Redução no prurido: dos pacientes que alcançaram uma redução clinicamente significativa (≥4 pontos) na escala de prurido (PP-NRS), 95,2% mantiveram essa melhora com a dose Q4W e 81,6% com a dose Q2W ao final do estudo. A diferença pode refletir variações individuais ao tratamento ou fatores relacionados à amostra.
Qualidade de vida: 93,4% dos pacientes com a dosagem Q2W e 90% com Q4W mantiveram uma redução significativa (≥5 pontos) no Índice de Qualidade de Vida Dermatológica (DLQI) até a semana 52.
Tolerabilidade: o rademikibart foi bem tolerado ao longo das 52 semanas, com apenas um paciente descontinuando o tratamento devido a um evento adverso (gravidez) na dose Q2W.
Além da ciência.
Sabemos que nem só de artigos e publicações se faz um bom dermatologista. Por isso, aqui vai nossa sugestão da semana para seu momento de descanso.
O filme do ano. Para essa semana, "Ainda Estou Aqui" é a única dica possível. Um filme sensível que é capaz de fazer muita gente desidratar rs.
A direção é cuidadosa ao abordar o tema da perda, equilibrando momentos de dor com cenas de esperança e reflexão. O filme nos faz pensar sobre o poder das emoções e como o amor e a conexão podem transcender barreiras.
É uma escolha perfeita para quem gosta de filmes que misturam drama e mistério, além de trazer uma reflexão sobre a importância de enfrentar e aceitar os sentimentos.
Disponível nos cinemas pelo Brasil.